Decisão de Biden de suspender entrega de bombas a Israel é significativa, mas simbólica
Sob pressão interna, o presidente dos EUA transforma em ação o descontentamento em relação aos desafios de Netanyahu.
O gesto do presidente Joe Biden de suspender a entrega de 3.500 bombas a Israel caso o país insistisse na invasão terrestre em Rafah, no sul de Gaza, é poderoso, mas simbólico. Pela primeira vez, em sete meses, o presidente americano transforma em ação a insatisfação em relação aos desafios insistentes do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Nessa queda de braço, tanto Biden quanto Netanyahu tentam acalmar suas bases: a ala mais à esquerda dos democratas americanos, que despreza o apoio do presidente a Israel na guerra em Gaza; e os radicais de extrema direita que sustentam o premiê israelense em sua cruzada para se manter no poder.
Netanyahu não pode prescindir do apoio dos ministros fundamentalistas Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich. Juntos, eles detêm 14 cadeiras de sua frágil maioria no Parlamento israelense e ameaçam, dia sim dia não, abandonar o premiê se aceitar um cessar-fogo em Gaza.
O apoio de Biden à campanha militar israelense gerou obstáculos significativos à sua campanha para a reeleição, traduzidos em protestos que o perseguem em eventos eleitorais, nos campi universitários e até mesmo em sua casa, em Delaware.
Outros presidentes americanos ameaçaram condicionar a ajuda militar a Israel. Na década de 1980, durante a invasão do Líbano, Ronald Regan suspendeu um carregamento de armas e a entrega de caças F-16 ao país. Em seu mandato, Bush pai ameaçou suspender um pacote de US$ 10 bilhões ao país, se a construção de assentamentos prosseguisse em territórios palestinos.
O recado do presidente americano, porém, foi dado ao premiê israelense, juntamente com a rara admissão de que as bombas americanas mataram civis palestinos. Deve servir, ao menos, para reajustar as bases da relação profunda entre os dois países.