Rio Grande do Sul passará pela maior ação de reconstrução da história do país

Esforço será proporcional à dimensão da tragédia gaúcha e terá impactos profundos em áreas como agricultura, saúde, educação e transporte

As enchentes que assolam o Rio Grande do Sul e mobilizam o país têm impulsionado a maior operação de socorro e reconstrução na história do Brasil. O esforço superlativo terá impactos profundos em diferentes áreas, da agricultura à saúde, da educação ao transporte, e será proporcional à dimensão da tragédia gaúcha — que, desde 27 de abril, ceifou a vida de 136 pessoas e afetou 2,1 milhões, superando a média anual de atingidos por enchentes e inundações entre 2016 e 2022, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA).

A força dos rios, que chegaram à marca recorde de 5,35 metros, inundou 92 mil lares em 428 cidades (85% do Rio Grande do Sul), estima a Confederação Nacional dos Municípios. Esse rastro de destruição, provocado pelas intempéries da natureza e por baixo investimento em sistema de prevenção, impulsionou o êxodo de 537 mil pessoas, formando o maior contingente de refugiados climáticos da história recente do país.

Para reverter essa situação e dar a volta por cima, o país terá não só de reerguer prédios, refazer estradas e auxiliar famílias que perderam tudo, mas também se preparar para lidar com um novo — e mais desafiador —cenário climático global, apontam especialistas.

— Vai ser a maior operação de reconstrução de infraestrutura pública, residencial e de indústria. Se por um lado é terrível, por outro precisamos fortalecer a adaptação às mudanças climáticas e aos eventos extremos, repensando a organização das cidades — diz Marcelo Dutra, professor de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Readaptação das cidades

O contingente de desalojados com as enchentes em 428 cidades do Rio Grande do Sul —537 mil, ao todo — supera o de outras tragédias ambientais ocorridas no Brasil. Dentre elas, estão os deslizamentos na região metropolitana de Recife, em 2022, que tirou cerca de 10 mil pessoas de seus lares em três cidades, e o desastre na Região Serrana do Rio, em 2011, que registrou 900 mortos e 35 mil desabrigados em sete municípios. A extensão do movimento de refugiados climáticos no estado gaúcho, segundo especialistas e gestores públicos, representará um impacto social mais profundo.

— O ineditismo do que ocorreu no Rio Grande do Sul se dá pela quantidade de cidades, extensão do que foi afetado e pelo tempo do evento, que ainda perdura. Mais de 200 desses municípios que estão em estado de emergência nunca tiveram nenhum registro de deslizamento, de contenção, de crise hidrológica — avalia o ministro das Cidades, Jader Filho, acrescentando: — Essas obras precisam atender qual será a necessidade daqui para frente, de readaptar nossas cidades e dar resiliência para novos eventos climáticos.

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