‘Privatização’ de praias: proposta debatida no Senado pode afetar pelo menos 521 mil propriedades
Ambientalistas afirmam que o texto do novo projeto dá margem para a criação de espaços nas orlas privados
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da propriedade exclusiva da União sobre terrenos da marinha pode afetar pelo menos 521 mil propriedades caso avance no Senado e seja sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O levantamento foi obtido e compartilhado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em agosto passado.
O tema voltou à discussão nesta segunda-feira após nova discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta segunda-feira e movimentar o debate nas redes sociais. Defendida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro após Flávio Bolsonaro, relator do caso, dar parecer favorável ao texto, a proposta é criticada por ambientalistas, que acusam a iniciativa de “privatizar” os espaços litorâneos.
A última vez que a matéria foi discutida pela CCJ foi em agosto do ano passado. Na ocasião, o senador afirmou que “o último levantamento da Secretaria de Patrimônio da União estima que são 521 mil propriedades que são cadastradas em terrenos de marinha, fora aquelas que não são cadastradas”.
— Estima-se um impacto de 10 milhões de brasileiros que hoje não têm segurança jurídica sobre a sua propriedade — disse Flávio.
O que são ‘terrenos de marinha’?
A matéria trata dos chamados terrenos de marinha, que ficam nas praias e nas margens dos rios e lagoas, além dos espaços que contornam as ilhas com águas ligadas aos mares. Atualmente as áreas pertencem à União e a proposta pretende repassar a propriedade para estados e municípios de forma gratuita, abrindo ainda à possibilidade de repasse a ocupantes privados mediante pagamento.
Ambientalistas afirmam que o texto do novo projeto dá margem para a criação de praias privadas, além de promover riscos para a biodiversidade. Técnicos do governo também afirmam reservadamente que a PEC pode permitir privatização de praias. Hoje, são os terrenos de marinha que impedem, porém, o fechamento de praias para entes privados. Como essa faixa também pertence à União, não é possível fechar o local, assim como mangues, por exemplo. Com a extinção do terreno de marinha, o proprietário se torna o único dono do terreno. Dessa forma, é possível a ele fechar o acesso ao mar.