Brasil tem negociação mais desafiadora entre todos os países ameaçados de sobretaxa pelos EUA
A demora do governo americano em dar uma resposta ao Brasil não diz apenas respeito ao país, é uma técnica de negociação do presidente Donald Trump de tentar levar quem está do outro lado da mesa ao máximo da aflição. Nessa estratégia, ele deixa o país esperando uma resposta e não abre canais de comunicação. Com o Brasil, no entanto, Trump adicionou um complicador à negociação: um ingrediente político. É irracional pedir que um país abra mão da sua estrutura democrática de poder por uma tarifa menor no comércio. Nenhum país democrático deve aceitar essa condição. Ao custo da soberania, não dá para negociar tarifas de importação.
É esse fator que faz a situação brasileira ser pior do que a de outros países ameaçados de sobretaxa. O que Donald Trump está pedindo ao Brasil não diz respeito a questões comerciais, não é economia. No comércio, tudo pode ser conversado. Esse tipo de negociação é natural na relação entre as nações. O que não é natural é a exigência feita pelos EUA de interrupção do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Permitir a interferência americana na autonomia do Poder Judiciário, evidentemente, não estará na mesa de negociação.
A tentativa de discutir comercialmente com EUA continua. Afinal, esta semana é decisiva, a data marcada para começar a valer a sobretaxa de 50% é 1º de agosto, sexta-feira. O chanceler Mauro Vieira está em Nova York e já mandou avisar que está disponível para conversa a qualquer momento em Washington. Até agora, não recebeu nenhum sinal neste sentido. A luz que surgiu no fim do túnel foi a conversa entre o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, na semana passada. Alckmin não deu mais informações sobre o teor dessa conversa, também por estratégia.
Os empresários brasileiros estão fazendo suas movimentações e um grupo de senadores, com predominância da direita, está nos Estados Unidos buscando interlocutores. Os parlamentares podem ter chance de se encontrar com seus pares no Congresso, mas não há sinal de que o governo abrirá espaço para recebê-los.
O momento é de ter sangue frio, levar com seriedade tudo o que está acontecendo e é também de o Brasil se preparar para o impacto do aumento da tarifa. Essa preparação ficou a cargo do Ministério da Fazenda que deve apresentar esta semana as medidas de apoio às empresas que vão ser mais afetadas pela elevação da taxa. Já se sabe que as exportadoras de perecíveis são as mais vulneráveis no primeiro momento. O governo tem que jogar em todas essas frentes enquanto continua a tentar conversar com os Estados Unidos.
O acordo anunciado com a União Europeia deixa a clara a estratégia americana. Havia uma tarifa baixa para a importação dos produtos europeus pelos americanos, Trump elevou inicialmente a taxa para 10%, ameaçou com 30% e agora fechou com 15%. O presidente americano foi subindo as barreiras de acesso ao mercado americano. Tudo isso terá efeito na economia americana e também na economia europeia. A taxa de 15% é melhor do que os 30% com os quais 17 países-membros do bloco eram ameaçados, mas é pior que o status anterior.
Apesar de o secretário de Comércio americano ter afirmado que não haverá adiamento das tarifas anunciadas para vigorar na sexta-feira, uma postergação não é completamente descartada, afinal Trump já fez isso outras vezes. Se isso acontecer, no entanto, só adia a nossa agonia. O melhor cenário é obter logo um acordo.